Os medicamentos magistrais têm como objetivo oferecer uma opção personalizada e sob demanda aos pacientes. Contribuem, assim, com o dia a dia de outros profissionais da saúde e oferecem aos pacientes acesso a soluções de maior eficácia. Entre as muitas possibilidades de manipulação de medicamentos, encontram-se as preparações orais líquidas.
As preparações orais são aquelas feitas para serem ingeridas. Sua forma líquida tem um importante papel na adesão ao tratamento por parte de grupos específicos, como crianças, idosos e pacientes cuja situação clínica impede a utilização da via oral sólida. Uma vez que a maior parte dos medicamentos tem forma sólida (como comprimidos e cápsulas), as preparações orais líquidas atendem aos pacientes que não podem ou não conseguem degluti-los. Lembrando que cápsulas também são ingeridas, mas a diferença é a deglutição.
Pontos positivos e negativos das preparações orais líquidas
Entre as muitas vantagens da manipulação de um medicamento, as preparações orais líquidas magistrais são mais facilmente administradas, possuem uma absorção rápida e oferecem fácil ajuste de dose. Além disso, contemplam grupos como recém-nascidos e neonatos, idosos e pacientes com dificuldades ou impossibilidade de ingestão de preparações sólidas.
No entanto, essas preparações podem ser um desafio quanto à estabilidade, à palatabilidade e à uniformidade da formulação. Há maiores chances de contaminação, alterações físico-químicas e uma maior dificuldade para suavizar odores e gostos desagradáveis.
Para garantir a dosagem correta e a adesão, é necessário estar atento à composição da formulação e à sua farmacotécnica. Assim, possibilita-se que cada dose seja administrada com segurança e tenha a eficácia esperada.
Preparações orais líquidas nas instituições hospitalares e congêneres
Uma farmácia magistral pode oferecer serviços de preparações orais líquidas manipuladas a instituições hospitalares e congêneres (clínicas médicas, instituições governamentais de saúde, prefeituras, entre outras), conforme a Resolução de Diretoria Colegiada – DDC 67, de 8 de outubro de 2007. No entanto, para isso é necessário:
- que haja contrato de prestação de serviços com as instituições para as quais a farmácia magistral está apta a oferecer tais serviços;
- que as instituições encaminhem à farmácia magistral prescrições individualizadas ou requisições que contemplem as quantidades justificadas para a preparação;
- que os rótulos das preparações estejam em conformidade com as normas da Anvisa.
O uso de preparações orais líquidas em instituições hospitalares e congêneres pode suprir a demanda de medicamentos personalizados. Além disso, auxilia outros profissionais da área de saúde na tomada de decisão e funciona como um agente facilitador no tratamento de pacientes internados ou sob cuidados dessas instituições.
Principais tipos de preparações orais líquidas
As preparações orais líquidas podem ser encontradas sobretudo em três formas: soluções, suspensões e emulsões.
As soluções são substâncias completamente dissolvidas em um solvente ou em uma mistura de solventes. Dividem-se em dois grupos: xaropes (preparações aquosas com alta concentração de adoçante e, em alguns casos, flavorizantes) e elixires (preparações hidroalcoólicas edulcoradas e flavorizadas que podem ou não ser medicamentosas).
As suspensões são preparações cujo princípio ativo não está completamente dissolvido no líquido. Por isso, é recomendado lembrar ao paciente que ele deverá agitar a preparação antes de utilizá-la. Suas vantagens são o emprego de ativos insolúveis em veículos comuns, a maior estabilidade e odor e sabor mais agradáveis.
Por fim, as emulsões são dispersões formadas por duas substâncias não miscíveis (água e óleo, por exemplo) que formam um sistema homogêneo a partir da atuação de um emulsionante. Também devem ser agitadas antes do uso.
Particularidades das preparações orais líquidas
As formulações orais líquidas apresentam, além de diversos tipos, uma série de diferentes efeitos nos pacientes. Por isso, apresentamos abaixo as particularidades das preparações mais comuns, indicando também os efeitos de seus ativos.
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Veículo e osmolaridade
As preparações orais líquidas de alta osmolaridade — em especial as que utilizam sorbitol e xarope simples — podem se relacionar com eventos adversos, como diarreia osmótica, distensão, cólicas abdominais e retardo no esvaziamento gástrico. Em bebês prematuros e neonatos, pode estar relacionada também à enterocolite necrosante.
A osmolaridade comum das secreções gastrointestinais fica em torno de 100 a 400mOsm/kg. No entanto, cerca de 80% das formulações líquidas orais apresentam osmolaridade que vai de 500 a 1000mOsm/kg. E, de acordo com a American Academy of Pedriatics, recomenda-se que a osmolaridade das fórmulas para bebês não exceda 450mOsm/kg.
Por esse motivo, preparações com essas substâncias devem ser evitadas na pediatria e em pacientes suscetíveis a problemas gastrointestinais. Nos casos em que seu uso não puder ser evitado, a concentração na fórmula e a dose da medicação devem ser as menores possíveis.
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Conservantes
Os tipos mais comuns de conservantes são: benzoato de sódio, ácido sórbico ou sobato de potássio, metilparabeno e propilparabeno. Não há um grande número de dados sobre a toxidade desses agentes na pediatria, embora atualmente se saiba quais deles são mais ou menos seguros para esse público. No entanto, algumas agências regulatórias estabelecem limites de exposição.
O metilparabeno e o propilparabeno podem causar reações alérgicas, elevação da bilirrubina e possuem afinidade por receptores estrogênicos. Na pediatria, seu uso deve ser evitado. Caso seja necessário, a concentração não deve passar de 0,1%. Em adultos, esse valor sobe para 0,2%.
O benzoato de sódio e o ácido benzoico podem deslocar a bilirrubina a partir da albumina e promover o acúmulo de bilirrubina, principalmente em neonatos. Isso predispõe os pacientes a quadros de icterícia. Crianças abaixo de 3 anos podem desenvolver, ainda, rash cutâneo, dermatite de contato e síndrome respiratória. A concentração usual é de 0,01% a 0,02%.
O propilenoglicol pode ser usado como conservante ou pré-solubilizante em preparações orais líquidas. Uma vez que a farmacocinética de neonatos é significantemente diferente da de adultos, o uso desse ativo em medicações para o primeiro grupo os predispõe a acúmulo de propilenoglicol, caso haja administrações repetidas. Isso gera o risco de sintomas parecidos aos promovidos pelo álcool, de modo que crianças menores de 5 anos devem ter uma ingestão máxima de 50mg/kg.
O sorbato de potássio mostra a melhor relação risco-benefício em pacientes pediátricos, mas a sua eficácia é limitada. A concentração indicada é de 0,1% para o ácido sórbico ou 0,14% para o sorbato de potássio. A ingestão diária aceitável é de 3mg/kg.
Diante dessas informações, é possível perceber que as preparações orais líquidas apresentam muitas vantagens. Porém, também possuem uma série de pormenores que devem ser conhecidos pelos farmacêuticos e demais profissionais de saúde.
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